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Início Opinião

CONFLITOS NO CAMPO

A guerra química no campo

A partir do relatório Conflitos no Campo, Walisson Rodrigues destaca os ataques de pulverização sobre comunidades

07.maio.2025 às 13h33
Recife (PE)
Walisson Rodrigues

Tem avançado o uso de drones para a pulverização aérea de agrotóxicos - inclusive como forma de ataque a comunidades rurais - Divulgação

Durante a Guerra do Vietnã, entre 1961 e 1971, os Estados Unidos lançaram cerca de 80 milhões de litros de herbicidas sobre florestas e plantações vietnamitas. O mais conhecido deles, o Agente Laranja, continha dioxinas altamente tóxicas, que devastaram a vegetação, envenenaram fontes de água, destruíram meios de subsistência e provocaram doenças graves e deformações em milhares de pessoas até hoje.

A estratégia não era apenas militar: era eliminar o suporte de vida do inimigo e impor o medo e o deslocamento da população.

Mais de meio século depois, algo assustadoramente semelhante ocorre no Brasil, fora dos campos de batalha e dentro das áreas camponesas, sobretudo no Nordeste. Uma guerra silenciosa avança devastando corpos, culturas e territórios. Não há tanques e nem soldados fardados. A arma, neste caso, é invisível ao primeiro olhar: são os agrotóxicos.

Os aviões e, mais recentemente, drones não despejam bombas, mas venenos, que atingem lavouras, casas, escolas, fontes d’água e seres humanos. O inimigo? Não é um exército, mas comunidades camponesas, indígenas, quilombolas, trabalhadores rurais. O relatório Conflitos no Campo Brasil 2024, publicado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), revela uma escalada alarmante daquilo que já pode ser considerado uma guerra química, especialmente na região Nordeste do país.

Em 2024, foram registradas 276 ocorrências de conflitos por contaminação por agrotóxicos, o maior número da última década. Além do salto de 763% no número de conflitos, o crescimento de 582% no número de famílias afetadas em relação ao ano anterior, chegando às 17.027 famílias vítimas dessa “guerra química”. O dado mais chocante está no mapa: o Maranhão concentrou 228 casos, muitos deles com uso de pulverização aérea, prática proibida em diversos países e extremamente nociva para a saúde humana e para o meio ambiente.

A realidade descrita pela CPT ultrapassa o campo estatístico. Os relatos apontam para populações envenenadas em suas casas, crianças intoxicadas em escolas rurais, roçados inteiros contaminados, além da água e do ar, transformados em veículos de dispersão de venenos. O uso de drones, uma inovação tecnológica no agronegócio, também aparece como instrumento de dispersão de substâncias tóxicas, ampliando ainda mais o alcance da contaminação.

A análise técnica contida no relatório vai além dos números. Segundo os autores Alan Freihof Tygel, Emiliano Maldonado e Jackeline Pivato, integrantes da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, os agrotóxicos são utilizados como “armas químicas dentro de um contexto maior de violência no campo”, com a finalidade de inviabilizar a vida camponesa, forçando a expulsão das comunidades e abrindo espaço para o avanço de grandes empreendimentos do agronegócio, da mineração e da especulação fundiária.

A crítica feita no documento atinge o modelo econômico predominante no Brasil, chamado de “extrativismo químico”, que subordina as vidas rurais aos interesses de grandes corporações — em sua maioria, empresas transnacionais com sede no norte global — que lucram com a comercialização de venenos agrícolas.

O Brasil é, hoje, um dos maiores consumidores mundiais de agrotóxicos. Boa parte dessas substâncias é proibida nos países de origem, mas amplamente utilizadas aqui, com respaldo em alterações legislativas que flexibilizam as regras e o controle sobre esses produtos.

No Nordeste, esse conflito químico se torna ainda mais agudo devido à vulnerabilidade das populações envolvidas. São famílias assentadas, quilombolas, indígenas, pequenos agricultores e ribeirinhos, cujas vidas e culturas estão intimamente ligadas à terra, à água e à biodiversidade local.

Com territórios muitas vezes localizados próximos a grandes empreendimentos do agronegócio, essas comunidades tornam-se alvo constante de contaminações que não são acidentes, mas consequência direta de práticas produtivas voltadas exclusivamente ao lucro, desconsiderando os direitos à saúde, ao território e à vida digna.

A CPT denuncia que as pulverizações ocorrem mesmo sobre áreas habitadas, escolas, hortas e áreas de criação de animais, numa violação explícita da dignidade humana. A título de ilustração, o relatório traz o caso de um território no Maranhão onde um drone, programado para pulverização aérea, passou diversas vezes sobre uma comunidade quilombola, deixando rastro de intoxicação coletiva e perdas de safra.

A resposta do poder público foi ineficaz: a fiscalização é falha, a responsabilização é rara, e as indenizações, quase inexistentes. O relatório também chama atenção para a ausência de uma política pública robusta voltada ao combate à contaminação por agrotóxicos.

A ecologia integral, proposta por diversas entidades, incluindo a Igreja Católica, aparece como alternativa à necropolítica do campo. A agroecologia, defendida como caminho possível e urgente, é constantemente sabotada por políticas governamentais que priorizam o agronegócio. As tentativas de avanço da reforma agrária, segundo o relatório, são barradas por projetos de lei que buscam criminalizar movimentos sociais e legalizar práticas já condenadas por órgãos internacionais de direitos humanos.

O documento, ao tratar os agrotóxicos como “armas químicas”, propõe uma inversão urgente de prioridades: é necessário defender a vida e não a lógica de morte institucionalizada em nome da produção de commodities. A guerra não é só contra o veneno, mas contra um sistema que envenena terras, corpos e consciências, dissolvendo qualquer esperança de sustentabilidade.

Neste cenário, o Nordeste torna-se palco principal de uma resistência que insiste em existir. A luta das comunidades camponesas é, ao mesmo tempo, denúncia e anúncio de um outro modelo de produção: justo, saudável e enraizado na cultura popular. Enquanto os drones pulverizam o veneno, os movimentos sociais plantam sementes de agroecologia, soberania alimentar e dignidade. E é nesse embate assimétrico que o futuro do campo brasileiro está sendo decidido.

Wallisson Rodrigues é cientista social e especialista em “Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo”

*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

Leia também: A violência contra quem luta por Justiça é expressão das desigualdades no campo brasileiro

Um olhar sobre a expansão dos parques eólicos no semiárido brasileiro

A importância das sementes crioulas em tempos de crise climática

Editado por: Vinicius Sobreira
Tags: agroecologiaagrotóxicosmstPERNAMBUCOpovos indígenas
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